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A HISTÓRIA COMO UMA JANELA PARA O FUTURO

 

Vem Pra Rua Brasil - 19 de Outubro de 2014

“Quem não aprende com a história está fadado a repeti-la.” Essa famosa frase se aplica em especial aos políticos da América Latina, que insistem em repetir seus erros a ponto de acharmos que estamos presos no clássico filme do ator Bill Murray. Dentre esses erros, um dos mais frequentes, mas não por isso menos grave, está o uso de políticas macroeconômicas populistas, definidas aqui como sendo aquelas que praticamente ignoram as restrições econômicas que existem por motivos físicos, tecnológicos e institucionais. Tais políticas ferem os preceitos mais básicos da economia – a ciência social majoritariamente dedicada ao estudo da alocação de recursos escassos – e o senso comum, dado que todos sabem não ser possível gastar mais do que se arrecada para sempre.


Cada episódio de populismo macroeconômico da América Latina teve certamente suas idiossincrasias que o distinguiu dos demais. No entanto, se esses episódios forem ter alguma capacidade preditiva, devemos focar naquilo que têm de similar. Em uma série de artigos acadêmicos, a maioria deles escritos no final da década de 80, os importantes economistas Rudiger Dornbusch e Sebastian Edwards procuraram identificar os elementos comuns às trajetórias percorridas pelos países latino-americanos que adotaram o populismo macroeconômico. Baseando-se em casos de Chile (terra natal de Edwards), Argentina, Brasil, Peru, México e Nicarágua, os autores identificam quatro fases comuns aos diversos episódios de populismo econômico:
 

Fase 1: Na primeira fase, uma insatisfação popular com o recente desempenho da economia, muitas vezes afetada negativamente por esforços para sua estabilização, associada a uma desigualdade social pré-existente gera um apelo por políticas distributivas. A estabilização econômica permite justamente que políticos adotem programas econômicos fortemente expansionistas, pelo menos por um breve período de tempo.
 

Fase 2: Na segunda fase, a economia se depara com alguns gargalos, resultado de uma forte expansão da demanda agregada que não é acompanhada por similar crescimento da oferta. Esse descompasso gera o aumento do déficit em transações correntes e o aumento da inflação, especialmente de produtos não-comercializáveis. As reservas internacionais evitam, nesse momento, uma crise externa. O governo combate a inflação através do controle e realinhamento de preços, o que por sua vez causa uma forte deterioração das contas públicas. A produtividade do país cai em função da má alocação de recursos que resulta do intenso intervencionismo econômico. Nessa fase, os salários ainda permanecem elevados.
 

Fase 3: Na terceira fase, os gargalos tornam-se mais evidentes, assim como a falta de certos bens. A inflação acelera e o financiamento externo torna-se mais caro e escasso. A deterioração do orçamento do governo é exacerbada, agora como resultado da diminuição da arrecadação fiscal que segue a queda da atividade econômica. O governo tenta estabilizar a economia cortando subsídios e promovendo uma depreciação real do câmbio. Os salários reais começam a cair e a insatisfação popular cresce até ocasionar a troca do governo.

 

Fase 4: Na última fase, o país é estabilizado num novo governo, em muitos casos com a ajuda de órgãos internacionais, e com a volta de políticas econômicas que respeitam as limitações macroeconômicas existentes. No final, os salários reais caem de maneira maciça, a um nível menor do que aquele em que estavam antes do início do episódio populista. As conseqüências do experimento econômico sobre o crescimento potencial da economia são duradouras, uma vez que deprimem a produtividade e o investimento, além de afastarem potencias provedores de capital.

 

Os autores concluem que as políticas econômicas populistas acabam fracassando a um custo particularmente alto para aqueles grupos da sociedade que seriam inicialmente favorecidos.

 

Uma parte da América Latina de hoje parece validar o que Dornbusch e Edwards concluíram há tantos anos. Aparentemente, a Venezuela e a Argentina são os países no estágio mais avançado rumo ao colapso econômico, por estarem trilhando o caminho do populismo macroeconômico há mais tempo. O Brasil parece estar ainda num estágio inicial, embora algumas fragilidades, como a situação fiscal do país, já sejam muito preocupantes.

 

Felizmente, a nossa história ainda está sendo escrita; ainda podemos mudar. Mas precisamos focar já em políticas que respeitem a manutenção de equilíbrios macroeconômicos de longo prazo e incentivem o aumento do investimento e da produtividade, as duas verdadeiras fontes de desenvolvimento sustentável. O Brasil do século 21 não precisa ser mais um exemplo de um experimento econômico fracassado. Basta aprendermos com a história para conseguir construir um futuro melhor.

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